Carta assinada pede urgência na elaboração de normas de segurança que ajudem a diminuir o risco de fogo em usinas fotovoltaicas
Autor: Henrique Hein 14 de abril de 2022 – Canal Solar
Incêndio em telhado com energia solar. Foto: Pinterest/Reprodução
O aumento considerável de ocorrências de incêndios em sistemas fotovoltaicos, principalmente, em telhados de residências e comércios tem chamado à atenção de autoridades brasileiras.
Em fevereiro deste ano, por exemplo, o Canal Solar contou a história de uma fábrica de calçados, em Patos de Minas (MG), que pegou fogo após uma provável instalação equivocada da tecnologia, segundo a Polícia. O fogo atingiu, aproximadamente, 600 dos 2,3 mil m² do empreendimento.
Por motivos como esses, o Corpo de Bombeiros encaminhou nesta semana à ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), entidade responsável pela elaboração de normas técnicas no Brasil, uma carta assinada pelo tenente-coronel Alysson Krüger Figueira, presidente do Conaci (Comitê Nacional de Combate a Incêndio), pedindo urgência na elaboração de normas de segurança que ajudem a diminuir o risco de incêndios em usinas solares.
Segundo o documento, a agenda sustentável e o uso dos sistemas solares são de fundamental importância e têm trazido evolução para a sociedade, com um crescente número de indivíduos buscando a independência energética por meio da geração de energia própria através de sistemas solares.
“Infelizmente o advento desta importante tecnologia, se não adequadamente projetada e implementada, apresenta risco potencial de provocar e asseverar incêndios, bem como tornar mais perigoso o seu combate”, frisou a carta.
Leia também
Incêndio em sistema FV no interior de SP reforça importância de empresas capacitadas
Proteção contra arco elétrico nos inversores fotovoltaicos
Como evitar incêndios em projetos fotovoltaicos
“Diversas corporações de bombeiros do Brasil têm reportado ocorrências de princípios de incêndios a incêndios de grandes proporções em edificações, associados aos sistemas fotovoltaicos. Em especial, observou-se muitas ocorrências de princípios de incêndios nos circuitos entre os painéis fotovoltaicos e os inversores, que operam em corrente contínua”, completou o documento.
O Conaci destacou ainda que atualmente já existem mais de 600 mil edificações no país com sistemas fotovoltaicos, cujo crescimento continua a aumentar exponencialmente. “Logo, o número de ocorrências como estas deve crescer, e deve-se ser adotada o mais brevemente possível um conjunto de medidas mitigatórias para evitar que estes eventos ocorram”.
Entre as medidas assinaladas e sugeridas estão:
- Evolução normativa e de regulamentações para exigir a inclusão de dispositivos adicionais de proteção para estes circuitos.
- O uso de materiais adequados e de procedimentos de comissionamento e inspeção para reduzir o número destes eventos e reduzir os níveis de risco às pessoas, caso estes venham a ocorrer.
Ainda de acordo com a entidade, foi identificado que a maioria das edificações que possuem sistemas fotovoltaicos, a tecnologia nestes sistemas emprega um circuito de corrente contínua que liga os painéis fotovoltaicos ao inversor.
Este circuito normalmente é formado por longos cabos, que saem dos módulos instalados no telhado e adentram na edificação até o inversor – que normalmente fica localizado em local abrigado dentro da edificação, em um lugar distante dos módulos.
“Nestes casos, este circuito de corrente contínua permanece energizado mesmo após a desenergização do circuito de corrente alternada caso o incêndio ocorra durante o dia. Adicionalmente, durante o incêndio, o fogo pode atingir estes condutores de corrente contínua dos sistemas fotovoltaicos e eliminar a sua camada isolante, o que pode causar curtos-circuitos”.
Preocupação
Neste sentido, a Conaci informou que o que “preocupa é que quase a totalidade dos sistemas fotovoltaicos existentes no Brasil não possuem meios para desenergização dos circuitos de corrente contínua supracitados que possam ser acionados em locais de fácil acesso pelos bombeiros. Logo, a atividade de combate ao incêndio nestas edificações torna-se muito perigosa aos profissionais que estão combatendo o fogo”, destacou o documento.
Por isso, o órgão entende que um conjunto de procedimentos, normas e regulações deve ser implementado para garantir a segurança e reduzir os riscos de fogo e explosões. “A reciclagem e capacitação dos bombeiros militares no combate a incêndio em sistemas geradores de energia com painéis fotovoltaicos é uma das formas de protegermos nossos profissionais”, destaca a corporação.
Outra maneira, deveras mais eficaz, segundo o Conaci, seria a promoção de uma evolução normativa e regulatória, com enfoque prioritário na proteção contra incêndio e na segurança dos profissionais que realizam o seu combate, a exemplo de países desenvolvidos, que já adotaram parâmetros normativos com este enfoque.
“Alguns países já identificaram esses fatores e atualizaram seus critérios normativos, em decorrência dos vários acidentes e mortes que ocorreram em eventos dessa natureza”.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o Departamento de Segurança Interna (do original: Department of Homeland Security) patrocinou vários projetos para identificar e compreender os riscos para os bombeiros responderem a incêndios em edificações revestidas com painéis fotovoltaicos.
Para Leandro Martins, presidente da Ecori Energia Solar, está mais do que na hora de regulamentar a obrigatoriedade dos dispositivos de segurança nos equipamentos de energia solar. “Essa é uma preocupação que vem desde o início da Ecori, na escolha de trabalharmos com microinversores APsytems, com a SolarEdge e mais recentemente com a Huawei. Ao longo desses anos levantamos a bandeira da segurança em diversos fóruns normativos e regulatórios, participando ativamente dos comitês da ABNT, INMETRO, dentre outros”, comentou.
“Nossos engenheiros já treinaram e prestaram esclarecimentos para a cúpula do Corpo e Bombeiros em Brasília e outros batalhões da corporação, ministramos treinamentos, escrevemos artigos e promovemos diversos eventos sobre o tema. É um momento muito importante para todo mercado e especialmente para nós, que trazemos a segurança em nosso DNA. Para a Ecori este é um valor inalienável”, concluiu o executivo.